domingo, 24 de julho de 2011

Manifesto da superficialidade


Intrigante a forma como o termo "especial" se tornou tão vulgar nos últimos tempos.
Chega a ser irónico...
O termo literário não é dotado de uma fonética diferente, nem de um impacto linguístico como o seu significado sugere.
A nossa sociedade não consegue encontrar o sinónimo certo para o conceito...é um claro bloqueio de mentalidade. Não confundir com bloqueio mental porque se trata de um fenómeno cultural.
"Especial" precisa de ser raro, não necessita de ser diferente porque se essa linha ténue for transposta torna-o banal. Raro é curto, simples e honesto...demasiado humilde por vezes.
Qual será, afinal, o real valor de ser especial?
Materializando o termo, posso-o comparar a dar um toque de telemóvel ou a um toking (termo correcto).
Toking não é objectivo nem esclarece como uma chamada telefónica normal e por outro lado não é tão linear nem tão revelador como uma SMS.
A vulgaridade de ambos os conceitos é demasiado gritante.
Especial tem de ser inovador e empreendedor em vez de raro e diferente.
No campo emocional, temos que ter mente aberta não só em relação aos sentimentos mas como à sua causa/efeito e explicação.
Precisamos de ser técnicos...de sermos gestores, engenheiros e arquitectos emocionais.
Faz falta alguma linearidade alguma racionalização na análise.
Assumo, no fim de contas são emoções...sensações primárias inerentes aos animais mas e se apelarmos ao empreendedorismo emocional?
Sejamos empreendedores...
Sejamos gestores de emoções, arquitectos de amor e engenheiros de sonhos...
Porque não?
Estou farto de ser primário e básico...de ser especial, apenas mais um.
Quero ser "o", artigo definido.
Ser reconhecido.
Ser qualidade e não quantidade.
Inovar nas atitudes e ser empreendedor nas relações, amizades, nas abordagens ao ser humano.
Deixemo-nos de ter pessoas especiais nas nossas vidas...
Deixemo-nos de investir em pessoas especiais...
Vamos ser empreendedores na afectividade.
Eu aceito o desafio.
Vou inovar!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Se...






Assumo que sempre tive preferência por uma suposição em detrimento de uma dúvida.
A dúvida será sempre a incerteza emocional que mexe mais connosco, que nos exalta, que nos evade de uma conotação normalmente negativa e que a utilizamos para observar a realidade.
A suposição é uma hipótese sem método, a que nos suscita curiosidade sem nos desgastarmos com coisas fúteis, passo a redundância, emocionais.
É um processo que revela bastante inteligência porque pressupõe uma análise imparcial...ao contrário da dúvida.
Gosto de supor, de testar, de escrever em redor das suposições mas acima de tudo gosto de calcular a probabilidade das suposições estarem certas...e quando estão e são concretizadas transformam-se no mais puro acto de realização pessoal.
Foi assim, supondo entre as aliterações que cheguei a estas palavras...


Sim, sei.
Sei o que sentes quando sonhas sentada no sofá.
Se sei?
Sim. Cessei.
Saio sentido da solidão que supostamente suportava.
Sofro?
Sofro, sôfrego.
Sóbrio cingia-me a um simples sentimento que sonhava ser sintético.
Se...se se será só uma suposição?
Certamente...certamente se será só.
Cedo senti-o.
Cedo cedi ao céu cinzento.
Centrifugando sentimentos.
Sem solução.
Sem Ti.

sábado, 16 de julho de 2011

Mediocridade citadina


As nossas dimensões fazem-nos cegos.
Somos orgulhosamente desmedidos.
Sentimo-nos suportados pela grande cidade
Quando realmente sofremos de uma pequenês tamanha.

A atroz barbaridade do betão
Que ocupou a ordem natural das coisas
Impôs-se ao ciclo hidrológico.
Onde nem um mero barco de papel
Obteve permissão de terminar o seu destino.

Ali numa Rua qualquer, tão perto do Rio.
Engolido pela vanguarda.
Abraçado pelo calmo frio calcário
Mimado pela "pequenês" da cidade.

O pequeno determinado,
Bem mais cedo ou demasiado tarde,
Sabe que cumprirá o seu caminho.
Porque o intenso calor das luzes da Metrópole
Elevará a água do generoso Rio até às estrelas.
Onde o sonho fará chover mais uma noite...
Onde ele finalmente poderá retornar a sua casa.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Partiste...






Não é banal.
Nada é comparável.
Nada se torna tão difícil.
Como o bater do coração a ocupar a respiração.
Cada lágrima que me percorre o rosto
Rasga-me as memórias
De alguém que parte em breve.

A lembrança peca pelo tamanho da saudade.
O vazio é demasiado transparente.

A caneta esquiva que nunca falhou
Que se mostra dúbia e incrédula.
Uma folha que se recusa a aceitar...
A triste volatilidade das palavras.

Uma digna e sincera última homenagem.
As árvores acenam com o vento.
As nuvens dão as mãos em sinal de respeito.
Os sinos dobram e compõem a orquestra.
Um coro de dor, entoa a despedida.

Vai, bom homem, segue o teu caminho!
Mas não me leves o sorriso.
Perdoa-me o egoísmo!
Preciso de usá-lo com aquela magia...
Doce alegria que me ensinas-te.

Assim, encaro cada dia...contigo.
Ausente, mas com a tua alma no sorriso.
E um pouco mais abaixo.
No coração.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Traços de Noite



Passo demasiado tempo distraído.

Faz-me bem olhar um pouco para baixo.
Observar o paralelismo da calçada.
Notar que a sua simetria nem sempre é perfeita
Muito pelo contrário.
Dar importância aos pormenores que vivem na sombra,
Mas que acima de tudo nos suportam.

Preciso de noites sem luar
Para que a sua falta se faça sentir
Apesar de saber que ela estará por lá...
Algures, naquelas nuvens indefinidas
Que podem assumir qualquer forma
Menos a que realmente quero.

O vento do luar sempre incoerente
Traz-me o frio da incerteza.
Estranhamente, gosto daquele frio.
Uma sensação que me reconforta.
Afinal, sei que estarás por lá.
Sinto-te distante mas bem junto a mim.

Mesmo assim, não tens de aparecer.
Sei que no fim de contas
Todos temos a nossa calçada...
O nosso luar, o nosso caminho.

Resignado, saudosista, lírico...
Assumo que já partilhámos o mesmo luar.
Aquele bem eloquente.
Onde não mais precisei de olhar para baixo.
Onde tudo parecia bastante simétrico.
Estava contigo e isso bastava.


Hoje é lua nova.
Sinto a tua falta.
Espero outra noite
Espero por nós.

domingo, 10 de julho de 2011

Faz acontecer!


Li, algures um dia destes, a seguinte premissa "os melhores sonhos são aqueles que vivemos acordados".
Aprecio a vontade desta afirmação, mas permitam-me discordar.
Cada ser humano tenta moldar a sua realidade consoante os seus sonhos, idealizações e impulsos.
Uma idealização é um contexto teórico do sonho, o seu guião...o sonho apenas a sua vivência, a mais sensorial...a que contem mais libido.
Os impulsos são factores emocionais aleatórios que nos levam a agir sobre algo...normalmente constituem o trilho do sonho, o caminho que vamos percorrer mas não necessariamente aquele que temos de percorrer.
Quando por vezes o dia a dia não nos conduzem aos nossos objectivos e somos levados por falsos impulsos sentimos a necessidade do abrigo egoísta que o sonho nos fornece.
Não confundir com sono. O sono dá-nos forças, o sonho dá-nos o doce privilégio das emoções...a diferença de apenas um h que simboliza o sitio onde estamos para onde queremos realmente estar.
Assim, dissecando pelos sonhos cheguei a estas palavras...

Anda.
Vem me adormecer,
Em tom monocórdico.

À noite,
Meus ouvidos vêem
As soltas palavras...

Cativam,
Não só pelo som
Mas pela forma como se fazem sentir.

Faz acontecer!
Leva-me para essa esfera,
Onde só cabemos os dois.

Deixa-te envolver!
Vivemos de memórias,
Saborosas recordações...

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sábado, 9 de julho de 2011

SENTIMENTOS PERMEÁVEIS


A volatilidade, a permeabilidade e a incoerência dos sentimentos são os fenómenos cognitivos que mais me despertam curiosidade. Não só num sentido literal da palavra mas também no funcional.
Como que uma corrente de convecção se tratasse, sabemos que mais cedo ou mais tarde eles vêm ao de cima, os bons e os maus. Apesar de querermos sempre os bons, os que nos realizam e nunca esquecemos.
As palavras podem ser descontextualizadas, o olhar, a reacção espontânea que cada acção desencadeia não conseguem mentir, nós podemos sempre tentar mas somos seres sensoriais acima de tudo.
É aí que baseamos uma relação e que conseguimos diferencia-la.
Quem nos quer bem, importa-se e guarda o conforto das nossas palavras.
A quem somos indiferentes, apesar de quererem que fiquemos bem...deixam cair os sentimentos e vivências utilizando as palavras em vez dos gestos, das acções, da expressão dramática, que muito temos deixado perder nos dias de hoje.
O dom da palavra qualquer um tem, como arma nem todos a sabem manejar, como abrigo os que gostam de nós usam...com o "timing" certo só os amigos...nem a família por vezes tem o "stream" afinado.
A pensar nesse carrossel de sentimentos que estamos sujeitos...cheguei a estas palavras.


Exactamente, finge.
Embora saiba quem tu és.
Nunca pensei que sempre o fosses.

Realmente, admito.
Inesperada essa perfeição.
Esse teu papel, esquisso.

Rasgado ou com traços e vincos.
Noutro tempo foi uma agenda.
Ocupada com mentiras.

Inventa outra história,
Que essa tinta já não adere.
Recicla a estratégia,
Essa mesma, a que fere.

Dá-me aquela razão
Há muito prometida
Essa que não esperou,
Saiu, fugaz, esquecida.

São sentimentos permeáveis
Correspondem aos teus sintomas.
Só precisas de te prender a um,
Só um, o meu.

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domingo, 3 de julho de 2011

Heroína






Um estranho brilho no olhar.
Foi assim que começou, com um estranho brilho no olhar de um homem que transparecia uma falsa felicidade. Aqueles enganos que por vezes a vida nos coloca ou que nós como seres sociais nos colocamos a "jeito" para que isso aconteça.
A imagem com que fiquei daquele homem foi o suficientemente reveladora da sua vida, pequena e insignificante, engolida pela metrópole...enganada pelos sonhos cinzentos de uma cidade que vive demais da sua luz para perceber quem se encontra na sua sombra.
E foi também assim, que cheguei a estas palavras...


Por mais dez voltas que dê,
Não consigo libertar!
Ela devolve para dentro
O que nunca mais quis sair.

Sentimento viscoso,
Aquele que eu não queria.
O hábito não faz o monge,
Ele, fomenta a sangria.
--
Sem rumo, sem ceia...
Trigo ou a veia?
A minha Heroína,
Que me domina, que me bloqueia...

Sem rumo, sem ceia...
A mesma epopeia.
A minha heroína,
Que me fascina, que me anseia.
--

Verdade transparente,
Sua acidez é que mata.
Quero tanta libido!
O vicio faz-me falta.

Versos que já não rimam,
Nunca o foram outrora.
Nem literatura prozaica,
Consegue ler-me agora.

2011-02

Não vês um padrão?







Ignorar - não saber, desconhecer, fazer de conta que não se conhece.

Ignorância - estado de quem ignora, falta de ciência ou de saber, incompetência.

Existem várias situações na nossa vida em que nos debatemos com os vários significados do termo ignorar.
Ignorar por desconhecimento...perdoamos.
Por outro lado, fazer de conta que se desconhece...nunca mais esquecemos.
O acto de ignorar é o mais forte e o mais perigoso da nossa sociedade, já que a ignorância leva a um julgamento cego, a falsos juízos de valor, à descriminação, a uma fraca percepção empírica que reduz a capacidade de resolver problemas...os problemas dignos desse nome.
A ignorância leva também à ineficácia em resolver situações e conduz a uma falta de transparência...sobretudo nos sentimentos.
Foi a pensar no impacto da ignorância que cheguei a estas palavras...

O tempo urge, não espera,
A suposta decisão.
Quando a vida não opera...
Uma Revolta ou Consagração!

Não vês um padrão?
Não? Puxa o filme atrás.
Não te esqueças que eu tenho sempre o rei,
Mas tu nem sempre terás o Ás.

Largas a bomba, sem rasto,
Sobre a "minha" multidão.
Negas o efeito, nefasto.
Sobre o meu coração.

Não vês um padrão?
Não? Pára para pensar.
Que a minha vida não está nada bem...
Mas olha que tu não estás nada mal...

2010-12

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Chuva de Outono


Eu assumo que existem duas etapas no ano em que a nossa nostalgia está no nível máximo, a Primavera e o Outono.
A Primavera porque é o renascer, passo a redundância, outra vez...é o reconstruir da Natureza, o Sol a voltar a irradiar-nos com aquele calor saboroso e suportável.
O Outono, bem o Outono é um assunto mais complicado, é precisamente a altura onde elaboramos uma retrospectiva do ano, um pré-final de ano, um reforçar do saudosismo das coisas boas que o ano nos deu e nos trouxe, um solene adeus ao Sol, a altura em que nos fechamos e reflectimos se voltaríamos a fazer tudo o que fizemos, o tempo dos arrependimentos, das incertezas quanto ao futuro...mas também, o regresso da Chuva, não numa conotação negativa...o regresso da "boa" chuva, da que gostamos de sentir a percorrer o nosso rosto, aquela que nos lava a cara, mas também o sentimento.
Foi assim que surgiram estas palavras...que mais tarde adaptei para uma música.


Podes sentir-me como eu sou,
Mas nunca peças para eu também mudar.
Felicidade dói ao tocar com mãos de quem não te esqueceu.

És como Chuva de Outono...
leve, quente, vai e vem quando quiser.
Uma liberdade que quer prender!
Onde te posso encontrar?
--
Não dá!
Não dá mais para te ter,
Nesta Chuva de Outono,
Cedo tu vais entender.

Não há!
Não há espaço para sorrir,
Nesta Chuva de Outono,
Não te quero ver partir!
--
Podes descobrir quem eu sou
O sentimento é forte e não sai.
Quero sentir-te de novo.
Esse teu vento de novo.

Gota a gota vou renascer,
Sou como Chuva de Outono.
A cada folha que cai,
Outra está para nascer.

2010-11

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27-12-2006





Como uma rotina, chegando a época Natalícia uma parte da população evade-se das grandes metrópoles regressando à sua Terra Natal, às suas raízes...como cidadão comum não sou excepção.
O frio, a calma, a falta de convívio com as pessoas que nos dizem mais no quotidiano reavivam os sentimentos e por sua vez a escrita...a lareira serve de consolo para a saudade.
Foi assim que cheguei a estas palavras.


Hoje, só hoje aceito.
Hoje, só hoje escrevo.
Tomo nota da tua ausência.

Naquela folha branca, nua, indiferente...
As doces palavras brilham, brotam, cantam...
Nem a noite apaga, nem o timbre desce.
Nem o amor acaba, nem o inverno aquece.

Na escrita, agrego o silêncio.
O silêncio, chama a razão.
Na razão consumo a falta.
A falta fere o coração.

Amanhã, só amanhã há poesia.
Amanhã, só amanhã eu queria.
Enquanto o lápis dormia, o sonho moldava...

sábado, 2 de julho de 2011

Bem vindos ao Traços e Esquissos!



Nunca sentiram a necessidade do silêncio?
Nunca precisaram de usar a inspiração do silêncio para verbalizar o que sentem?
Nunca sentiram a necessidade de contar uma história através de uma única imagem, sentimento ou situação?
Será esta a finalidade deste blog, usar as palavras como arma de contar sentimentos.

Bem vindos ao traços e esquissos.